quinta-feira, 13 de maio de 2010

Não entendo..




Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.

Entender é sempre limitado.

Mas não entender pode não ter fronteiras.

Sinto que sou muito mais completa

quando não entendo.

Não entender,  do modo como falo, é um dom.

Não entender, mas não como um simples de espírito.

O bom é ser inteligente e não entender.

É uma benção estranha,

como ter loucura sem ser doida.

É um desinteresse manso,

é uma doçura de burrice.

Só que de vez em quando vem a inquietação:

quero entender um pouco.

Não demais:  mas pelo menos entender que não entendo.


 
Clarice Lispector

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