quarta-feira, 19 de maio de 2010

Tomara..



Tomara

Que você volte depressa

Que você não se despeça

Nunca mais do meu carinho

E chore, se arrependa

E pense muito

Que é melhor se sofrer junto

Que viver feliz sozinho



Tomara

Que a tristeza te convença

Que a saudade não compensa

E que a ausência não dá paz

E o verdadeiro amor de quem se ama

Tece a mesma antiga trama

Que não se desfaz



E a coisa mais divina

Que há no mundo

É viver cada segundo

Como nunca mais...



Vinícius de Moraes

Analise da vida






Como dizia o poeta

Quem já passou por essa vida e não viveu

Pode ser mais, mas sabe menos do que eu

Porque a vida só se dá pra quem se deu

Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu

Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não

Não há mal pior do que a descrença

Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão

Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair

Pra que somar se a gente pode dividir

Eu francamente já não quero nem saber

De quem não vai porque tem medo de sofrer

Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão

Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não



Vinícius de Moraes

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ternura




Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor

seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

Das noites que vivi acalentando

Pela graça indizível

dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura

dos que aceitam melancolicamente.



E posso te dizer

que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas

nem a fascinação das promessas

Nem as misteriosas palavras

dos véus da alma...

É um sossego, uma unção,

um transbordamento de carícias

E só te pede que te repouses quieta,

muito quieta

E deixes que as mãos

cálidas da noite

encontrem sem fatalidade

o olhar extático da aurora.


Vinícius de Moraes

Tenho Tanto Sentimento



Tenho tanto sentimento

Que é freqüente persuadir-me

De que sou sentimental,

Mas reconheço, ao medir-me,

Que tudo isso é pensamento,

Que não senti afinal.



Temos, todos que vivemos,

Uma vida que é vivida

E outra vida que é pensada,

E a única vida que temos

É essa que é dividida

Entre a verdadeira e a errada.



Qual porém é a verdadeira

E qual errada, ninguém

Nos saberá explicar;

E vivemos de maneira

Que a vida que a gente tem

É a que tem que pensar.



Fernando Pessoa

Não entendo..




Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.

Entender é sempre limitado.

Mas não entender pode não ter fronteiras.

Sinto que sou muito mais completa

quando não entendo.

Não entender,  do modo como falo, é um dom.

Não entender, mas não como um simples de espírito.

O bom é ser inteligente e não entender.

É uma benção estranha,

como ter loucura sem ser doida.

É um desinteresse manso,

é uma doçura de burrice.

Só que de vez em quando vem a inquietação:

quero entender um pouco.

Não demais:  mas pelo menos entender que não entendo.


 
Clarice Lispector

Rifa-se um coração






Rifa-se um coração quase novo. Um coração idealista.

 Um coração como poucos. Um coração à moda antiga. 

 Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado,

meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e,

cultivar ilusões.

Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.

Um leviano e precipitado coração que acha que

Tim Maia estava certo quando escreveu...

"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".

Um idealista...  Um verdadeiro sonhador...



Rifa-se um coração que nunca aprende.

Que não endurece, e mantém sempre viva

a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.

Um coração insensato que comanda o racional

sendo louco o suficiente para se apaixonar.

Um furioso suicida que vive procurando  relações e emoções verdadeiras.



Rifa-se um coração que insiste

em cometer sempre os mesmos erros.

Esse coração que erra, briga, se expõe.

Perde o juízo por completo

em nome de causas e paixões.

Sai do sério e, às vezes revê suas posições

arrependido de palavras e gestos.

Este coração tantas vezes incompreendido.

Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.



Rifa-se este desequilibrado emocional que abre

sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas,

mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.

Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado

por quem gosta de emoções fortes.

Um órgão abestado indicado apenas para

quem quer viver intensamente

contra indicado para os que apenas pretendem

passar pela vida matando o tempo,  defendendo-se das emoções.



Rifa-se um coração tão inocente

que se mostra sem armaduras

e deixa louco o seu usuário.

Um coração que quando parar de bater

ouvirá o seu usuário dizer

para São Pedro na hora da prestação de contas:

"O Senhor pode conferir.

Eu fiz tudo certo,

só errei quando coloquei sentimento.

Só fiz bobagens e me dei mal

quando ouvi este louco coração de criança

que insiste em não endurecer e,

se recusa a envelhecer"



Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por

outro que tenha um pouco mais de juízo.

Um órgão mais fiel ao seu usuário.

Um amigo do peito que não maltrate

tanto o ser que o abriga.

Um coração que não seja tão inconseqüente.



Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,

mas que incomoda um bocado.

Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda

não foi adotado, provavelmente, por se recusar

a cultivar ares selvagens ou racionais,

por não querer perder o estilo.

Oferece-se um coração vadio,

sem raça, sem pedigree.

Um simples coração humano.

Um impulsivo membro de comportamento

até meio ultrapassado.

Um modelo cheio de defeitos que,

mesmo estando fora do mercado,

faz questão de não se modernizar,

mas vez por outra,

constrange o corpo que o domina.



Um velho coração que convence

seu usuário a publicar seus segredos

e a ter a petulância de se aventurar como poeta.




Clarisse Lispector

terça-feira, 4 de maio de 2010

Dá-me a tua mão



Dá-me a tua mão: Vou agora te contar

como entrei no inexpressivo

que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei  naquilo que existe entre o

número um e o número dois,

de como vi a linha de mistério e fogo,

e que é linha sub-reptícia.


Entre duas notas de música existe uma nota,

entre dois fatos existe um fato,

entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam

existe um intervalo de espaço,

existe um sentir que é entre o sentir

- nos interstícios da matéria primordial

está a linha de mistério e fogo

que é a respiração do mundo,

e a respiração contínua do mundo

é aquilo que ouvimos

e chamamos de silêncio.



Clarice Lispector

Amor e Amizade




Perguntei a um sábio, a diferença que havia

entre amor e amizade, ele me disse essa verdade...

O Amor é mais sensível, a Amizade mais segura.

O Amor nos dá asas, a Amizade o chão.

No Amor há mais carinho, na Amizade compreensão.

O Amor é plantado e com carinho cultivado,

a Amizade vem faceira, e com troca de alegria e tristeza,

torna-se uma grande e querida companheira.

Mas quando o Amor é sincero ele vem com um grande amigo,

e quando a Amizade é concreta, ela é cheia de amor e carinho.

Quando se tem um amigo  ou uma grande paixão,

ambos sentimentos coexistem  dentro do seu coração.



William Shakespeare

domingo, 2 de maio de 2010

Eu aprendi...





Eu aprendi...

...que ignorar os fatos não os altera;


Eu aprendi...

...que quando você planeja se nivelar com alguém, 
apenas esta permitindo que essa pessoa continue a magoar você;



Eu aprendi...

...que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas as feridas;


Eu aprendi...

...que ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa;



Eu aprendi...

...que a vida é dura, mas eu sou mais ainda;


Eu aprendi...

...que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu.


Eu aprendi...

...que quando o ancoradouro se torna amargo a felicidade vai aportar em outro lugar;


Eu aprendi...

...que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito;


Eu aprendi...

...que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando você esta escalando-a;


Eu aprendi...

...que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer.

(Boa noite , Amor )



William Shakespeare

Precisão



O que me tranqüiliza

é que tudo o que existe,

existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete

não transborda nem uma fração de milímetro

além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.

Pena é que a maior parte do que existe

com essa exatidão

nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós

como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,

a perfeição.


Clarice Lispector